sexta-feira, 1 de março de 2013
CRÔNICA DA BOLA VII
VIVA A DIVERSIDADE
No meu tempo – que, convenhamos, nem faz tanto tempo assim – o auge da galhofa era
ridicularizar o sujeito afeminado. O alvo preferido das chacotas, na escola e nos bairros, nas
brincadeiras de criança, era sempre aquele amiguinho mais gentil, mais sensível, que não brigava,
não xingava, não era grosso nem rude. Bastava ter um trejeito um pouco diferente e já lhe caía a
pecha de viado, gay, bicha, bichinha, boiola, baitola, traveco e assim por diante.
Nos anos 80-90, Luís Roberto Gambine Moreira, a famosa Roberta Close, era motivo de
escândalo, criadora de polêmicas. Mudar de sexo era tabu. Coisa do demônio. Atualmente, e já não
era sem tempo, essa mentalidade vem mudando. Antigamente era vergonhoso ser viado, gay, bicha
e ainda por cima gostar de pessoas do mesmo sexo – tanto que a maioria, de fato, escondia suas
preferências sexuais. Hoje não. Existe quase que um orgulho em torno da homossexualidade e da
liberdade. As pessoas estufam o peito e saem às ruas, em passeatas GLBT, marcha das vadias e
outras, dizendo, com entusiamo “o corpo é meu, eu faço dele o que eu quiser”.
Nosso time não poderia ficar fora dessa. É o sinal dos novos tempos. Poucas décadas atrás,
por exemplo, seria ridículo para um jogador sério desfilar em campo ostentado, graciosamente,
chuteiras amarelas, verdes, vermelhas, roxas ou cor de rosa. Agora é o que mais tem. Newton que o
diga: o mineiro mais macho da nossa equipe maltrata a pelota com sua bela chuteira número 44 na
cor pink. Cabelos coloridos, penteados arrepiados, diferentes e espetados que identificávamos,
invariavelmente, como “modelo chitãozinho e chororó” são agora o suprassumo da elegância.
Importa estar na moda. Destacam-se, nesse quesito, as belas madeixas do igualmente formoso
goleiro Alexandre Bozo. Vovó Mafalda deve estar orgulhosa. Outra importante revolução deu-se na
indumentária. Envergar camiseta de regatas sempre foi relacionado ao bissexualismo. Agora é
normal. A relação com o corpo também mudou. Antes era motivo de espanto o uso do silicone.
Seios expandidos por até 250ml, cujas próteses caríssimas pouco duravam, eram raridade. Porém,
em pleno 2013, quem já não conhece uma amiga (ou amigo) que aderiu ao tal artefato sensual?
Nosso último jogo foi a prova concreta dessa argumentação. Descobrimos a causa da
revolução futebolística de nosso mais surpreendente atleta Tiago, vulgo machão do protocolo.
Quando começamos a nos reunir para as partidas, no ano passado, ele era lento, ele era ruim, ele
não jogava nada. De repente, tudo mudou: Tiago foi ficando veloz, mais forte e, em algum dado
momento, não pisava mais na bola, não furava, não caía sentado. O que teria ocorrido? Que
transformação interna estaria acontecendo, longe dos olhos de todos? Logo tudo ficaria esclarecido.
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