terça-feira, 18 de dezembro de 2012
CRÔNICA DA BOLA II
O Dilúvio
Diz a lenda que Noé levou para a segurança e marasmo de sua espantosa arca um
casal de cada animal; então o céu se fechou e choveu torrencialmente por 40 dias e 40 noites
após os quais o mundo, depois de enxuto, foi exageradamente repovoado. Quando, como, e
“se” realmente tudo isso aconteceu jamais saberemos. O que podemos afirmar com certeza
é a fome de bola dos “nucleicos” atletas que não mediram esforços para entrar em quadra
mesmo após o forte temporal que se abateu sobre nossas cabeças na última sexta-feira.
Ficamos desfalcados pelas desistências do gladiador Carlos e do meticuloso Zé Paulo (as
alegações vão desde “sapatos incompatíveis com o piso” - pois jogaríamos futsal em vez de
futebol sintético até “eu era neném, não tinha talco, mamãe passou açúcar em mim” e não
queremos derreter na chuva). Porém, ganhamos um nobre reforço vindo direto das
masmorras da SEED: Sr. Wilson, o incansável. De resto um cara que joga de blusa.
Com metade dos times jogando escondido de medo de ser descoberto usando
chuteiras para sintético na quadra de futsal, deu-se o embate. Logo nos minutos iniciais
ficou clara a dificuldade: Fabinho corria, a bola ganhava; Fabão se contorcia, mas a bola não
dominava; Marlos ziguezagueava, ciscava, de nada adiantava; Alessandro espalmava, mas o
passe não chegava; Newton reclamava – estaria errada a lei da gravidade do seu próprio
xará? A culpa era da bola, só podia. Mas se assim fosse, como é que o Robinho corria,
tocava, driblava, e driblava, e driblava? Ah, meus 15 aninhos, que saudades que eu tenho da
aurora da minha vida, da minha infância querida, agora que as cãibras não me largam mais!
Somos boleiros, temos habilidade, temos estilo, somos craques. A culpa é da idade.
Falando em molecada, eis que surge um momento de descanso em meio a correria
desordenada de sempre: “tá lá um corpo estendido no chão!” E é de ninguém mais ninguém
menos do que o Thiaguinho, o nosso último baluarte de inocência, nosso último bastião de
juventude e frescor, aquele que deveria ser o nosso exemplo do corpo perfeito, o cara
sarado, a energia da primeira idade, a criança do núcleo. Ledo engano, pois nesse exato
momento de que vínhamos falando lá está o pobre protocolando uma chamada ao SIATE,
uma “massaginha” nas virilhas, um pouco d´agua, um abanador, ao menos um minuto de
imóvel descanso. E nisso mancava de dor.
Foi aí que deu-se o inusitado. Fabião fez as honras, convidando a delicada Soraya
para suprir com galardia a vaga do pobre contundido. Ninguém concordou, ninguém disse
não. Quando nos demos conta havia uma criatura do sexo feminino em quadra, uma
legítima representante do sexo oposto e ali, à mercê das trombadas, dos chutões, dos
encontrões, dos empurrões, das bicudas e caneladas que, a bem da verdade, nenhum de nós
teve coragem para ousar levar a cabo. Ninguém exceto ela mesma! Nunca vi uma mulher
mais “bicudera”. Soraya não sabe correr, nem chutar, nem se posicionar, mas joga com raça:
chuta a bola, chuta a trave, chuta a gente. Se errou a bola algumas vezes, não teve
importância, pois não perdeu a viagem – que o digam as pobres canelas adversárias. Lorena
ou Soraya, quem poderá dizer? De fato está mais pra CARLA! Por isso, em verdade, vos
digo: “somos homens, somos jogadores, temos raça, temos culhões, somos machões com
CH maiúsculo, mas não somos de ferro”. Semana que vem eu imploro para que a deixam no
banco ou, pelo menos, que nos sejam fornecidos equipamentos completos de segurança
como capacetes, caneleiras, coquilhas, protetor auricular, óculos, luvas e botas de borracha.
Finalizo este singelo texto destacando alguns dos números finais do evento:
• o time do Marcelino Romarinho ganhou duas partidas (números não oficiais,
passíveis de erro e/ou alterações);
• Marcelino foi o artilheiro do dia com 4 gols (que só ele viu);
• Entre os 3 passes de calcanhar que o Marcelino disse que deu e o fim do mundo no
dia 21, o que é mais fácil de acreditar?;
• Duas jogadas incríveis de Marcelino, encobrindo o goleiro (essas eu vi e
testemunho!);
• Passes soberbos, perfeitos e milimétricos de Marcelino para golaços de Marlos;
• 60 reais pelo aluguel da quadra;
• 5 reais pela locação da bola;
• 2847398549547895643 dólares que o Marcelino vai me pagar pelo benefício da
dúvida – tais como o chupa-cabras e a torcida paranista, sobre os lances dele acima
citados aplica-se a seguinte observação: “dizem que existe, mas ninguém nunca
viu”. Sem mais.
Autor
- Meu Amigo Fabinho
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