quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
CRÔNICA DA BOLA V
“MUIMO”
Pense num dia glorioso, em que os anjos do céu descem das alturas entoando hinos de
louvor e despejando graças sobre as perplexas cabeças mortais. Pense nas crianças, entusiasmadas,
sorrindo numa explosão de alegria. Pense na imprensa, atônita; nos repórteres espavoridos correndo
por todos os lados, disputando, aos berros e cotoveladas, o melhor ângulo para registrar o fato
fantástico.
Pense num bando de cagalhões se matando atrás de uma bola. Jogadas lindas e
maravilhosas, lances estupendos, trombadas homéricas. Tudo isso aconteceu na última semana,
quando a chuva caiu impiedosamente e fomos, mais uma vez, forçados a procurar uma quadra
coberta. Desta feita, o local escolhido para o embate situava-se na famosa Rua Cascavel, nas
adjacências do NREAMSUL.
Lastimando a ausência sempre querida do semi-atleta Marcelino, começou a o partida.
Começou e já parou. Minutos após o início do jogo, Dilangues arremeteu um torpedo fulminante.
Arrasadora, a bola subiu feito um foguete alucinado rompendo a barreira do som, indo parar de
encontro ao teto do ginásio onde veio a entranhar-se de modo irrecuperável nas redes protetoras. O
chutão estratosférico estremeceu as fundações do estabelecimento e levou ao delírio a torcida
feminina que lotava os camarotes superiores. Andréa, a mais empolgada, ficou fascinada com o
esbanjamento de categoria do seu romântico “ogro”. Registre-se a presença da secretaria-mor
Gisele, fartando-se de rir do TOP (mini-blusa) em que transformara-se o colete de Dilangues.
Após meia hora de intensa negociação conseguimos outra bola, de modo que a peleja pôde
ser reiniciada. O jogo prosseguiu sem sobressaltos até que 7 dias, 12 horas e quarenta e cinco
minutos depois, Tiago (sempre ele) acordou. Acompanhado de seu irmão caçula, o “meia-armadorprotocolador”
resolveu mostrar serviço. Numa disparada involuntária, incontrolável e perigosa,
Tiago driblou um, driblou dois, driblou três, deu tratos à bola e arrematou com precisão. Um golaço.
O silêncio era total. Um pouco refeito do susto, o goleiro Alexandre “bozo” estava sentado
chorando baixinho, inconformado, não tanto pela plasticidade da jogada, senão pela inusitada
autoria do lance antológico. A incredulidade foi geral. Todos ficaram espantados, inclusive o
próprio Tiago que, evidentemente estarrecido, exclamou: “o que foi que eu fiz?” - nem ele
entendeu.
(CONTINUA ABAIXO)
E o melhor de tudo foi que pudemos ver a peripécia toda em seus mais completos
pormenores, pois o desenrolar da jogada, obviamente, deu-se em slow-motion. O “guepardo” do
protocolo levou exatas três horas, dois minutos e dez segundos para terminar de concluir a jogada.
Enquanto isso, Newton foi ao banheiro e, quando voltou, a situação já era desesperadora. O
que se seguiu foi um massacre. Dezenas de jogadas indescritíveis que, sucedendo-se aos montes,
culminaram na derrota histórica, visceral, soberba, maiúscula e acachapante imposta ao time dos
“Amigos do Rh”.
Pense comigo. Imagine cinco pobres almas sofrendo horrores. Imagine um pequeno
engenheiro sendo constante e repetidamente arremessado contra os pilares da quadra, com suas
belas madeixas negras chocando-se duramente contra o puro concreto das paredes. Imagine um time
desnorteado, perdido em quadra. Imagine a desolação. Imagine homens adultos chorando
convulsivamente. Feche os olhos e poderá até ouvir seus soluços, a respiração ofegante. Imagine a
humilhação. Imagine a dor da perda. Como é triste a derrota, como é gostoso o sabor da vingança.
Ontem choramos, agora sorrimos. No jogo passado perdemos, mas nesse “moemos”!
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