Capitalismo

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

CRÔNICA DA VI


NEM SÓ DE GOL VIVE O FUTEBOL
O grande rei Pelé, vulgo Edson Arantes do Nascimento, tido e havido como a maior lenda
viva do futebol mundial não é, nem nunca foi, perfeito. Dentro e fora dos gramados, teve seus
vacilos, suas jogadas mal feitas, seus lances perdidos. Entretanto, como todo grande herói, até os
seus erros entraram para a história na conta de magníficos exemplos para as gerações futuras - cabe
lembrar, como prova do que dizemos, o incrível drible de corpo no goleiro uruguaio Mazurkiewicz
em plena copa de 70; após render o goleiro, Pelé chuta a bola para fora do gol vazio, enquanto o
desesperado zagueiro Ancheta tentava em vão chegar na jogada. Não foi gol. Mesmo assim, esse
momento imortalizou-se, indo parar, para sempre e toda posteridade, com todas as honras, nos anais
das galerias de lances inesquecíveis do futebol mundial.
Da mesma forma, e mais humanamente, o jogador Kléber João Boas Pereira, vulgo Kleber
Pereira (campeão brasileiro pelo Furacão em 2001 e que depois defendeu o Santos), era um
magistral perdedor de gols feitos: driblava a zaga inteira, o goleiro e com o gol aberto, chutava por
cima, escorregava, desistia do lance porque a sua correntinha de ouro da sorte caiu do pescoço...
Para os belos mancebos que nos leem com tanta assiduidade participarem como
testemunhas oculares dos fatos aqui descritos, lembremo-nos do jogador Deivid. Muito
recentemente o atacantezinho razoável do igualmente medíocre timeco do coxa perdeu um gol de
forma inacreditável, em baixo da trave e sobre a linha – motivo pelo qual foi expulso do poderoso
flamengo tendo, como castigo exagerado, sua transferência decretada para o barraco alvi-verde dos
coxinhas.
Por essas e outras, chegamos ao ponto. A partida realizada na última quinta feira teve como
destaque e algoz do seu próprio time o veterano Marcelino, vulgo “Romarinho Deivid Gols que
Pelé Não Fez”. A peleja desenvolvia-se, como sempre, dentro da mais calma normalidade. Súbito,
alguém mais inspirado deu-se ao trabalho de criar uma jogada portentosa, carregando a bola com
galardia até a linha de fundo do time adversário. O brilhantismo do lance, porém, terminou aí.
Possuído por algum vírus da irresponsabilidade, esse mesmo gênio resolveu, por ironia do destino
ou pura displicência, cruzar a bola inadvertidamente para o próprio Marcelino. Se foi bobeira, se no
instante lhe “deu um branco”, se foi por deboche, isso jamais saberemos. A verdade verdadeira dos
fatos da vida foi o que se seguiu: Marcelino FURANDO como jamais se furou um dia. Haja mustela
putorius furo, o “furão”, para tentar explicar o inexplicável, haja inacreditável futebol clube, haja
vinheta bobinha do globo esporte!
Perdemos meia hora tentando desentrelaçar as pernas do caboclo. Mas qual nada, logo já
estava “bão” de novo. E pior, muito pior, pronto para outra! No lance seguinte, algum desavisado
cruza novamente para ele que tinha, por honra e dignidade, enfiado na cabeça que só um golaço de
2
calcanhar o redimiria aos olhos do mundo da bola. Já estávamos negociando vender o passe de
Marcelino para o NRE da Área Norte ou, até, o para o Núcleo de Foz do Iguaçu (quanto mais longe,
melhor). Nessa tentativa, já nervosamente postado, o nosso digníssimo atacante mostrou a que veio:
rigorosamente nada! De onde menos se espera, dali é que não sai nada mesmo! O rapaz tentou
matar a bola e essa escorreu, caprichosa e definitivamente rumo a linha lateral. Sem se dar por
vencido que o cidadão é esforçado, disso ninguém duvida, Marcelino corre para a bola e emenda
um belo chute, porém, para o alto. Mais um gol perdido debaixo das traves que, infelizmente para
ele, possuem no máximo uns 2 metros e meio de altura. O famoso “pé de califa” ainda reclamou:
“só fui matar a bola, não como ela subiu tanto.”
Antes de acabar a partida ainda houve tempo para um golpe de calcanhar do meio de campo.
Com Dilangues bem postado na meta, nem coçou, apesar da chuva torrencial que São Pedro
mandava de castigo. Em tempo: os amigos do RH ganharam um nova trilha musical após se
abrigarem ridiculamente das poucas gotas que caíam graciosamente sobre os corpos cansados de
todos: “eu era neném, não tinha talco, mamãe passou açúcar em mim”. Haja pânico de gripe.
E assim o jogo acabou sem belos gols para serem lembrados e sem grandes jogadas. Porém,
houve um fato pra ficar sempre gravado na memória de todos que lá estiveram. Certamente seus
corpos e mentes, cansados e crivados de tantas malogradas tentativas e de tantas enfadonhas
repetições de lances nada promissores serão agraciados por décadas ao se lembrarem do dia em que
Marcelino errou feito Pelé. Se ele joga mal e porcamente como todos nós, pelo menos erra com
estilo. Jogou como todos, mas falhou como o rei.
ps. – desconsiderar o último parágrafo, ele furou feio mesmo. (...)

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